sábado, 29 de setembro de 2007

Escola de Idiotas - um filme para idiotas?


Escola de Idiotas


Direção: Todd Phillips

Elenco: Billy Bob Thornton (Dr. P), Jon Heder (Roger), Ben Stiller (Lonnie), Jacinda Barrett (Amanda), Horatio Sanz (Diego), Luis Guzmán (Sargento Moorehead), Michael Clarke Duncan (Lesher), Todd Louiso (Eli)










A História do Filme

Triste e inconformado com a sua vida por ver que sempre tem medo de todos e se julgar um fracassado, Roger (Jon Heder) decide procurar ajuda ao entrar em uma escola nada convencional, onde a matemática não será a principal material do curso.Um lugar onde ele terá sua auto estima renovada e se tornará um novo homem, um“Vencedor”.


Junto com outros “fracassados”, Roger é “ensinado” pelos métodos nada didáticos do durão e frio Dr.P (Billy Bob Thornton), sempre acompanhado pelo leal e temido Lesher (Michael Clarke Duncan), com quem aprenderá a filosofia de “ ser presa ou ser o predador” e a estar mais decidido a lutar pelo o que quer. Mesmo depois de muitas dificuldades, quando Roger já parecia estar mais seguro para sair com a vizinha dos seus sonhos, a delicada Amanda (Jacinda Barrett), eis que para sua infelicidade seu próprio mentor, Dr P, parece também estar “interessado” na moça e entra na disputa.Sem conseguir uma brecha para derrotá-lo nesse embate, Roger decide apelar e pedir ajuda para um antigo aluno do Dr P, Lonnie (Ben Stiller), que saíra da cidade para um estranho “exílio” depois que seu mentor também roubou-lhe sua garota no passado.



**********************************************************************************

Comentários


-----A lembrança do também engraçado e espirituoso “Tratamento de Choque” com Adam Sandler e Jack Nicholson veio rapidamente em minha mente nos primeiros 20 minutos desse filme, onde também narrava a história do aparente calmo Dave Buznik (Adam Sandler) que, ao “entrar numa fria” por um engano, é sentenciado por uma juíza a ter sessões de terapia com o insano Doutor Buddy Rydell, um renomado psiquiatra que ajuda pessoas a tratarem e controlarem a raiva. E é exatamente quando Roger decide procurar ajuda matriculando-se na tal escola e tem sua primeira aula, confesso que identifiquei um pouco esse personagem com o vivido grandiosamente por Sandler.Não que ambos fossem totalmente iguais, mas se pareciam um pouco pelo fato de ambos guardarem um ódio mortal dentro de si mesmos por permitirem serem vitimas de outras pessoas que mantinham um comportamento atrevido e mal educado perante eles.


No momento que o Doutor P. pergunta a Roger “Você se considera um fracassado?” e o mesmo responde o que todos que assistiam o filme pensavam “SIM”, e por sua vez seu mentor o surpreende com um “Não, não é!Fracassados são aqueles que tentam,tentam e fracassam sempre.Vocês aqui nunca tentaram nada!” foi similar a minha reação ao ter assistido “Tratamento de Choque” quando, se sentindo confuso por ver que Dr. Buddy não lhe daria uma carta de dispensa por não se considerar nervoso, o mesmo diz “Existem dois tipos de nervosos: aqueles que entram num supermercado estressados, já descarregando tudo encima do caixa do supermercado e o caixa do supermercado que agüenta quieto todo o santo dia as provocações do tal homem nervoso…até que uma hora ele explode e faz uma besteira”.


Em ambos exemplos, pode-se notar que sempre quando nos deparamos com tipos como Roger ou Dave muitos acabam não percebendo que o que essas pessoas sentem em relação a elas mesmas acaba influindo perigosamente no comportamento que outras pessoas terão com eles por verem esse auto-desrespeito explicito, já que preferimos isentar os mesmos de qualquer tipo de culpa e optar por criticar a atitude ofensiva das demais pessoas, sendo que a pior atitude realmente esta sendo a dos próprios indivíduos por não exigirem o seu respeito, por se acovardarem e se acomodarem em dada situação.


Acabamos por julgá-los coitadinhos demais, quando que na verdade essa forma de pensar faz com nutramos dentro de nós um desprezo travestido de pena, e isso acaba sendo ainda pior.Por esse ponto, até consegui entender o objetivo do Doutor P ao tratar seus alunos sempre com severidade e sem qualquer pena, na verdade este estaria fazendo um grande favor a todos ao conseguir que os mesmos parassem de sentir pena de si próprios e começassem a ter algum tipo de reação, para que percebessem que até mesmo eles seriam capazes de se proteger do mundo.


Com muita cautela em sua interpretação, Jon Heder conseguiu aplicar toques totalmente humanos e indefesos ao pobre Roger, fazendo com que até mesmo quem assista tenha sentimentos pelo personagem que variam entre pena e desprezo.Mesmo no decorrer da história, com seu personagem conseguindo adquirir uma certa confiança e demonstrando ser mais ativo e participativo em sua própria vida, ainda assim percebemos que não confiamos totalmente nele e o julgamos apenas “um corajoso esforçado” do que alguém plenamente auto-confiante ou decidido com aquilo que quer, e o mesmo pode-se dizer de seus amigos de curso (vide “Comentários Pós Filme” logo abaixo), o que nos deixa atentos ao ponto de que ter auto-confiança não é uma coisa assim tão simples e não acontece da noite pro dia.


Centralizando ainda nas relações do personagem de Roger, vemos suas duas vizinhas Amanda (por quem é apaixonado) e sua irmã Becky, que o tratam de maneira diferente: a primeira com uma certa demonstração de afeto e um possível interesse pelo pacato Roger e a segunda com nítidos comportamentos desprezivos e ofensivos ao rapaz. No entanto, se ao final do filme constatassem que Roger era na verdade um esquizofrênico, tal revelação não teria me surpreendido.Com sua total insegurança e seu comportamento absolutamente desajeitado, totalmente longe de ser um sujeito simpático ou interessante, fica um pouco irreal crer que uma mulher como Amanda fosse se interessar ou mesmo ter qualquer parcela de interesse por alguém assim, sendo que a atitude de sua irmã Becky, embora mesquinha e desagradável, seja a que mais se encaixa com a atitude que qualquer mulher teria se tivesse Roger como seu vizinho ou mesmo conhecido.E explicando a parte da esquizofrenia, por que não acreditar que Amanda, na verdade, representasse em seus possíveis devaneios o tipo de garota que todo cara como Roger no fundo desejasse ter: alguém que fosse atenciosa com ele, que demonstrasse interesse e afinidade com seus gostos, que risse com ele não importasse o que ele dissesse, alguém que fosse, em resumo, “bonitinha e legalzinha”.


Por sua vez, Becky representaria toda garota que ele temeria e não gostaria que estivesse perto: alguém que o satirizasse o tempo todo, que colocasse sua honra e auto-estima em cheque, que o ignorasse e o desprezasse com risos sarcásticos e olhares esnobes.Mesmo isso sendo uma viagem um tanto particular, fica aqui a certeza de que o roteirista quis deixar a história “o mais sentimental possível”, prevendo um final feliz para o protagonista e sendo irrelevante, por exemplo, quais desejos Roger seria capaz de despertar em uma mulher.


Por outro lado, Billy Bob Thornton conseguiu tirar de letra o frio Dr P, demonstrando o seu lado severo e frio, como um lobo faminto por carne fresca, pronto para tirar proveito da condição frágil de seus pupilos.Logo em sua primeira demonstração, fica evidente o seu também desprezo por todos dentro daquela sala e por um instante eu mesmo não entendi como todos aqueles caras tinham ainda coragem de regressar para um lugar assim, um lugar onde eles pareciam serem ridicularizados o tempo todo por alguém que se julgasse absolutamente superior a eles, não me parecia possível que mesmo pessoas como eles conseguissem voltar (mesmo tendo pagado, cada um, 5000 dólares pelo curso…sim, naquela hora eu achei que fosse pegadinha, mas era verdade) para terem uma nova sessão de tortura.


---Mas ao pensar melhor, acabei constando que a atitude deles não era também uma atitude assim tão incabível: acostumados a viverem sempre como vitimas, creio que a tal aula do Dr P não significava mesmo tão grande coisa perto do que eles vivenciam todo o dia. E quanto a participação do personagem de Ben Stiller ( que considerei muito mal aproveitado na história) é muito breve (aparece depois de uma hora e vinte de filme)mas de certa forma interessante e engraçada, vivendo um tipo bem esquisitão.


---Tendo como roteiristas o próprio diretor Todd Philps e Scot Armstrong ( que também escreveram o roteiro para filmes como “Starky & Hutch”,”Dias Incríveis”,entre outros), o filme acaba servindo como um bom entretenimento para sua sessão da tarde ou caso você seja um “fracassado” disposto a mudar de vida a qualquer custo.Coragem.Seja você também um vencedor!


**********************************************************************************

Comentários Pós-Filme


-----Diferente do que eu pensava, o final acabou sendo um tanto chocante para mim, mostrando o Doutor P como um grande vilão.No momento que ele tenta enganar Roger dizendo que tudo aquilo não passara de um teste e que aquelas passagens de avião eram para ele e Amanda, senti um alivio e sensações boas dentro de mim.Novamente lembrei do bom filme “Tratamento de Choque”, onde o insano psiquiatra de Dave, aparentemente apaixonado pela sua namorada, acaba se revelando um profissional de caráter e uma excelente pessoa, entregando a moça de mão beijada ao protagonista e revelando que tudo o que passara até então havia sido uma farsa combinada com a própria namorada para ajudá-lo a enfrentar a raiva.Infelizmente, tipos com o Doutor Buddy Rydell são muitos raros de se encontrar por aí, e pensei isso exatamente quando Roger percebera que havia cometido um grave erro ao confiar em alguém tão competitivo e absolutamente indigno de sua confiança.Depois dessa revelação, passei a achar o tal Doutor P um tanto canastrão e infantil, e comecei a ter minhas duvidas de quem realmente ali seria o inseguro.

No entanto, creio que essa situação fora importante para o protagonista, pois acabara o deixando um pouco mais atento a determinados fatos: pessoas mentem, seja por que gostam de você ou por que querem te enganar e apunhalá-lo pelas costas. E mesmo o lema da escola ”Minta, minta e minta” acabou servindo a todos ali, seja para que ficassem mais cautelosos a outras pessoas ou que pudessem usar isso a seu favor. Se pararmos para pensar que, aparentemente, Roger achara que tinha conquistado a garota ideal, que compartilhava os mesmos gostos com ele como gostar de conversar sobre programas de tv, é bom lembrar que a mesma, falando com o Dr. P disfarçado de médico, alegou que simplesmente detestava pessoas que viessem lhe chatear falando sobre programas de tv ou mesmo seriados, contradizendo seu comportamento em relação a Roger que estava totalmente certo de que tudo entre os dois ia bem, mas ignorara o fato de que no fundo ele não sabia mesmo o suficiente sobre Amanda e até parecia que isso não era lá tão importante assim.


Quanto a esse ponto, acabei não culpando tanto assim Roger por acreditar que não apenas os idiotas são egoístas, mas muito acabam sendo por acreditar que a pessoa que esta ao seu lado realmente compartilha com todos os seus gostos quando na verdade essa pessoa procura apenas não magoá-lo.Afinal, quem nunca passou por uma situação parecida?



Mas o principal problema que encontrei depois foi relacionado aos amigos de Roger.Afinal, o que de fato eles queriam, que mudanças eles gostariam que ocorressem realmente em suas vidas?Por que era mesmo tão necessário mudar, apenas para provarem algo para si próprios ou para outras pessoas?Por exemplo, no que desagradava a um viver com sua mãe que sempre o depreciava, este terminara por sair de casa e ir morar com seus avós (que talvez fossem piores do que sua própria mãe, refletindo que o mesmo queria uma independência falsa); no que desagradava a outro ser depreciado por sua mulher todo o dia, este a largou para ficar com uma mulher talvez pior do que a anterior; no que desagradava a um viver mentindo, este se casou com uma mulher que acreditava que ele fosse o Moby.


O final de cada um dos personagens mostrou que, embora tendo a auto-confiança, é necessário e importante saber o que realmente se quer para não continuar perdido na vida, como se estivesse num longo oceano fazendo círculos sem fim e sem qualquer propósito.Mudar para o seu próprio bem é necessário, mas nunca é por que pessoas pediram isso a você ou por que você acha que precisa mostrar isso para alguém.Devemos, sim, mudar por nós mesmos!


----------Mesmo com o final "feliz bobinho", a mensagem que o filme realmente deixou foi que não existe mudanças sem luta ou desafios, pessoas evoluem quando são submetidas a testes, sejam eles pessoais ou passageiros.Mesmo todas as situações em nossas vidas que se mostram um tanto difíceis acabam sendo necessárias para a construção de nossa identidade e para que possamos crescer e nos tornarmos a cada dia pessoas melhores.Afinal, decidir se você será presa ou predador implica em saber se você aguentará as conseqüência de suas escolhas e conseguirá viver do modo que você realmente deseja.

4 comentários:

Anônimo disse...

eu li sua crítica..... E CONCORDO!!!!

finalmente um blog decente que aparece ....

T+1 disse...

Aew agosto !
Curti cara, curti o blog em si também, eu vou usar bastante ele pq assim como vc eu tb sou viciado em cinema.
Terá boas dicas pra o q irei alugar pra assistir em casa.
Abrass

Anônimo disse...

Ótimo trabalho, gostei muito do texto.

Abraço!

Matheus disse...

Massa de blog !
Este aqui vai dar certo !